Parelheiros- HISTORIA DO BAIRRO
Quem diria… A Pauliceia não é só desvario. A antítese do caos, e o antídoto para o estresse, existem a menos de 50 mil metros da Praça da Sé.
São as Áreas de Proteção Ambiental Capivari-Monos e Bororé-Colônia, localizadas na região de Parelheiros,que começam a ganhar estrutura para receber turistas.
Ambas compreendem território de 341 km², ou um quinto da capital paulista. Abrigam extensa área de mata atlântica, cachoeiras, aldeias indígenas e, acreditem se quiser, uma cratera de 35 milhões de anos feita por um meteorito.
A prefeitura de São Paulo quer estimular o ecoturismo na área e, junto com o Sebrae e outros parceiros, desenvolveu roteiros a serem percorridos neste belo rincão da metrópole. “Isso aqui é algo precioso que temos na cidade e que deve ser preservado”, diz o subprefeito de Parelheiros, Carlos Roberto Fortner. Segundo ele, um turismo consciente e controlado ajudará a proteger a biodiversidade e os recursos .
Hídricos locais.
Nada mais fundamental: nas APA’s (como são chamadas as Áreas de Proteção Ambiental) encontram-se a bacia hidrográfica dos rios
Capivari e Monos, e nascentes que alimentam as represas de Guarapiranga e Billings (responsáveis por 30% do abastecimento de água da
região metropolitana de São Paulo). Também sobrevive no local cerca de 70% da mata atlântica da cidade. Proteger tal patrimônio começa
a ser encarado como questão de sobrevivência para paulistas e paulistanos.
Trilhas e templos
De acordo com o monitor ambiental Erley Coradi, que guia passeios pela região, há mais de 30 cachoeiras – uma delas com 70 metros de altura – que podem ser visitadas nas APA’s. As trilhas, por sua vez, têm diferentes perfis: vão desde o passeio até a Cachoeira do Sagui (caminhada de duas horas de duração) até a desafiadora descida a Itanhaém (trilha de 25 quilômetros de distância).
A diversidade étnica é outro dos atrativos do lugar. Há, na Capivari-Monos, duas aldeias indígenas guarani, que recebem visitantes em programas guiados. São vizinhas da primeira colônia de imigrantes do Estado de São Paulo, criada quando, em 1829, 94 famílias alemãs chegaram à região. Hoje, seus descendentes promovem importante evento cultural do município: o Colônia Fest, festival de dança e músicas típicas realizado na metade do ano.
A comunidade japonesa, tão integrada à vida paulistana, também marca presença neste lado da cidade. A filosofia oriental deu origem ao Solo Sagrado, uma área de 327 mil m² cheia de flores, lagos e pessoas praticando Johrei (técnica de purificação espiritual).
A represa de Guarapiranga, com suas águas plácidas, completa a paisagem.
O Solo Sagrado pertence à Igreja Messiânica Mundial, instituição de inspiração xintoísta fundada no Japão em 1935. Seu objetivo é ser um
“protótipo do paraíso terrestre”, onde as pessoas podem entrar em contato com a natureza e se desenvolver espiritualmente.
Área carente
Mas São Paulo é terra de contrastes, e aqui não poderia ser diferente. Enquanto a Igreja Messiânica prega a erradicação “da doença,
da pobreza e do conflito”, Parelheiros, o distrito que abriga as APA’s, destaca-se com um dos lugares mais carentes e violentos da capital.
Relatório do Observatório Cidadão Nossa São Paulo, de 2006, mostra que a região tem um dos maiores índices de assassinato da cidade.
Naquele ano foram 67 homicídios. Sua renda mensal, segundo a secretaria do trabalho, é uma das mais baixas: média de R$ 900,00. A sensação de insegurança, porém, parece se concentrar na parte urbana de Parelheiros: as APA’s, como um mundo à parte, preservam ainda um clima de paz rural. “Aqui é como o interior de São Paulo”, diz Miguel Naghirniac Jr, diretor do acampamento infantil
Águias da Serra, situado dentro da Capivari-Monos. “Tenho esse negócio há dez anos e nunca tive problemas. O lugar é seguro”.
Para o subprefeito de Parelheiros, o turismo pode ajudar a melhorar as condições de vida da comunidade. Algumas redes de prestação
de serviço já foram criadas, como a Associação dos Empreendedores de Ecoturismo da APA (Aecotur) e a Associação de Monitores
Ambientais da APA Capivari-Monos (Amoaapa) – uma cooperativa de 35 guias, incluindo dois indígenas, que conduzem os turistas
pela conhecer as atrações locais.
Visitas guiadas
De acordo com Fortner, a intenção da prefeitura é que, neste primeiro estágio, as visitas às áreas de proteção sejam feitas com guias
locais ou agências especializadas. “A região ainda não está pronta para o turismo autônomo”, afirma o subprefeito. Locomover-se entre
os diversos pontos de interesse das APA’s, de fato, é difícil.
Os roteiros oferecidos por agências especializadas incluem visitas às aldeias indígenas, a cachoeiras e passeios de escuna.
Também é possível dedicar-se a um turismo puramente cultural: lugares como a Capela de São Sebastião, construída na Ilha
do Bororé em 1904, e a Sociedade de Cultura Afrobrasileira Asé-Ylê do Hozoouane, praticante do candomblé, estão abertos aos forasteiros.
Para dormir, há uma série de pousadas e alguns campings disponíveis.
A Cratera da Colônia, por fim, é um dos destinos que não devem ser ignorados em uma turnê pela Capivari-Monos.
Com 3,6 quilômetros de diâmetro, criados pelo choque de um meteorito há 35 milhões de anos, o enorme buraco abriga hoje um loteamento irregular com 45 mil pessoas. Há lá também construção feita pelo Estado: um presídio com mais de mil detentos. Um bom exemplo de como não deve ser tratado esse belíssimo recanto de São Paulo.

- Na região de Parelheiros (SP), há mais de 30 cachoeiras que podem ser visitadas nas Áreas de Proteção Ambiental

- Mapa ilustrativo das Áreas de Proteção Ambiental Capivari-Monos e Bororé-Colônia (clique na imagem para vê-la ampliada)

- Parte da Igreja Messiânica do Brasil, o Solo Sagrado é um lugar aonde as pessoas vão meditar, praticar Johrei e entrar
- em contato com a natureza